Coordenador: Fábio Ejzenbaum
Membros participantes: Célia Regina Nakanami, Dirceu Solé, Galton Carvalho Vasconcelos, Júlia Dutra Rossetto, Luciana R. Silva, Luisa Moreira Hopker
A contaminação por SARS-CoV-2 através dos olhos ainda não foi cientificamente provada, porém vários relatos sugerem que o vírus pode causar uma conjuntivite folicular leve, muito parecida com a infecção adenoviral, indistinguível de outras causas, e que possa ser transmitido através do contato com a conjuntiva e lágrima.
Existe consenso entre a comunidade oftalmológica que pacientes com conjuntivite que concomitantemente apresentem febre e sintomas respiratórios possam representar potenciais casos de COVID-19.1
Algumas publicações a respeito da associação entre COVID-19 com achados oftalmológicos têm sido elucidativas para a comunidade científica.
Estudo publicado no Journal of Medical Virology2, com 30 pacientes hospitalizados por COVID-19 na China, apenas um apresentou conjuntivite. Esse paciente – e não os outros 29 – apresentava SARS-CoV-2 nas secreções oculares. Isso sugere que o SARS-CoV-2 pode infectar a conjuntiva e causar conjuntivite, e que partículas virais infecciosas podem estar presentes nas lágrimas de pacientes com COVID-19 com conjuntivite.
Outro estudo publicado no New England Journal of Medicine3, os pesquisadores observaram “congestão conjuntival” em 9 dos 1.099 pacientes (0,8%) hospitalizados com COVID-19, porém nenhum destes teve avaliação oftalmológica para confirmar a conjuntivite.
Em uma série de casos retrospectivos publicada em 31 de março na JAMA Ophthalmology4, 12 de 38 casos hospitalizados e apenas “clinicamente confirmados” de COVID-19 na província de Hubei na China, tiveram “manifestações” oculares (quemose, secreção, epífora e hiperemia). Dado interessante é que esses pacientes, em relação a outros infectados, tiveram PCR, neutrófilos e leucócitos aumentados. Outro achado foi que em dois pacientes o swab conjuntival foi positivo para o RNA da SARS-CoV-2, um deles tinha hiperemia conjuntival e outro quemose e epífora.
Estudo chinês afirmou que algumas medidas protetivas tiveram sucesso em evitar infecção para oftalmologistas envolvidos no tratamento ao COVID-19. Da triagem prévia ao uso de máscaras e protetores faciais5.
As normas sugeridas aos oftalmologistas pelo CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) órgão representativo da classe oftalmológica brasileira são6:
1) PACIENTES SEM SUSPEITA DE COVID-19: A utilização da máscara cirúrgica juntamente com Protetor Facial (face shield) para as consultas e atendimentos aos pacientes sem suspeita e ou sintomas da COVID-19;
2) PACIENTES CONFIRMADOS OU COM SUSPEITA DE COVID-19: Utilização de máscara cirúrgica em conjunto com Protetor Facial (face shield) para as consultas e atendimentos aos pacientes com suspeita ou portadores da COVID-19;
3) PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS: Para todos os procedimentos cirúrgicos devem ser utilizadas as máscaras N95 ou PFF2, sendo esta de uso único, podendo ser utilizada por até 12 horas.
Os dados existentes até o momento sugerem que a conjuntivite é um evento incomum no que se refere ao COVID-19. No entanto, como a conjuntivite é uma afecção muito prevalente, e temos na literatura a confirmação da presença do vírus na conjuntiva e na lágrima, não se pode afirmar que os olhos não sejam fonte de infecção, assim sugerimos proteção aos profissionais envolvidos.
Acreditamos que além da proteção para a boca, nariz e mãos, os olhos devem estar protegidos ao se cuidar de pacientes potencialmente infectados com SARS-CoV-2.